Assim como o cacique Ariel Ortega participa dos processos demarcatórios das Terras Indígenas Guarani Mbya na região de São Miguel das Missões, as lideranças Guarani Mbya da Aldeia Morro dos Cavalos participaram do processo de estudo da demarcação e delimitação de suas Terras Indígenas. Dentre as fontes utilizadas para compreender a relação de ocupação tradicional dos povos indígenas com seus territórios, e comprovar o uso histórico destes ambientes, encontram-se fotografias, as memórias e os saberes que as comunidades indígenas exercem sobre o território que pretendem demarcar. Os povos Guarani Mbya estão imersos em sua forma espiritual de enxergar o mundo: sua forma de agir, seu corpo, e suas palavras, remetem à memória de seus ancestrais, tanto os mais próximos, quanto os Nhanderú Mirim, ancestrais que, antes da chegada dos juruá kuery (não indígenas), alcançaram a Terra Sagrada. Lembrar de seus ancestrais significa continuar seguindo a caminhada sagrada em busca de purificação, mantendo o mbya reko (modo de ser Guarani Mbya). Assim, a memória Guarani Mbya é permeada por sua espiritualidade, que faz com que busquem viver conforme seus ancestrais, ao mesmo tempo em que buscam conviver com eles, nas moradas celestiais. Esta caminhada se manifesta na interação com a terra onde vivem, seu modo de viver, suas atividades, de acordo com a cultura mbya. As fotografias e as narrativas orais, registram, e permitem compreender estas relações. Ao mesmo tempo, pelas palavras serem sagradas para os Guarani mbya, a oralidade também é a própria relação, a revelação da cultura específica dos povos Guarani…
Outro método que se utiliza dos saberes e das memórias Guarani Mbya para compreender o uso tradicional com a terra, é genealogia. Trata-se do estudo que busca relacionar os parentescos das famílias nas aldeias, buscando entender como as várias gerações Guarani Mbya foram vivendo suas culturas em suas terras, e construindo paisagens, em ambientes que os possibilite viver segundo o mbya reko (modo de ser Guarani Mbya). Estes mapeamentos eram feitos nas grandes reuniões entre as famílias Guarani Mbya, aty guaxu, e os antropólogos, nas aldeias Morro dos Cavalos e Massiambu, evidenciando-se a participação de numerosas famílias, e as relações de parentesco entre as aldeias no sudeste brasileiro. As fontes para o mapeamento foram a oralidade, o estudo das paisagens, as fotografias, entre outros documentos.
Veja novamente a uma parte do vídeo, em que a liderança Guarani Mbya, seu Adão, fala sobre os estudos genealógicos. Pause para analisar a genealogia de algumas das famílias Guarani, realizadas durante o processo de produção do relatório de demarcação da Terra Indígena Morro dos Cavalos: