Todos os guarani ficaram cuidadosos, com a queda do raio na Tekoá Koenju. Poderia ter sido um espírito bom, ou um espírito ruim, o responsável pelo raio, mas uma coisa era certa: aquilo era um lembrete de que precisavam se proteger, seguindo o mbya reko (modo de ser guarani mbya) adequadamente. As mulheres da aldeia ficaram muito interessadas na madeira que foi atingida pelo raio, para poderem fazer mbo’y (colares guarani mbya). Os mbo’y tem como função proteger as pessoas que os utilizam dos angue carregados negativamente, de maus espíritos e de influências e ações negativas de pessoas. Os mboy podem ser constituídos de sementes, madeira talhada, pedras ou miçangas.

COLARES (Mbo`y)

“Fotos tirada por mim na sala colares de Joana Mongelo”. In: SILVA, Alexandrina da. O Grafismo e os Significados do Artesanato da Comunidade Guarani da Linha Gengibre. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura Intercultural Indígena) – Universidade Federal de Santa Catarina, p. 16.

 

Os colares são confeccionados pelas mulheres. Elas utilizam sementes e miçangas. Os colares feitos de sementes servem para se distinguir de outros grupos. Eles significam proteção e fortalecimento do espírito. As sementes são elementos sagrados para o povo guarani. (SILVA, 2015, p. 16-17).

Os estilos de colares vão sendo aprendidos nas aldeias conforme as visitas entre os parentes, de outros locais. As redes de parentesco mantidas através da mobilidade guarani mbya, é um fator fundamental para a dinâmica da produção de colares, e muitos colares são feitos para presentear e proteger os parentes de fora, ou para aqueles que vão sair e visitar parentes em outras aldeias.

Os colares feitos de sementes, são elementos sagrados e é tradicional guarani. Alguns são consagrados pelos Karai. Então esse é dado para a pessoa que vai viajar e visitar seus parentes longe da aldeia. Esse colar vai proteger a pessoa durante a viagem para que nada de mal lhe aconteça. (SILVA, 2015, p. 17).

Para proteger os guarani mbya, Pauliciana pediu aos seus netos que trouxessem a madeira atingida pelo raio. Esta madeira havia sido tocada pelo raio, e estava ligada à morada dos deuses. Caberia aos rezadores decifrar seu significado. Como líder espiritual, Pauliciana queria utilizar a madeira para criar colares que fortalecessem os homens da aldeia, fortalecendo seus espíritos, e aproximando-os do mbya reko (modo de ser guarani mbya).

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O neto de Pauliciana, então, foi investigar a queda do raio, e coletar um pouco de madeira para que sua avó fizesse os colares com este material. Ao examinar a árvore, percebe que não foi um espírito mal, pois não matou a árvore, e, portanto, nem o seu espírito. Os deuses só queriam dar um “susto”. O susto se deve ao fato de muitos e muitas guarani mbya não estarem mais levando a sério várias práticas do mbya reko (modo de ser guarani mbya), e dos juruá invadirem suas terras, não permitindo assim que os guarani mbya vivam seu Nhandereko (sistema cultural guarani mbya). Daí a necessidade que Karaí Tataendi interpreta, de construir uma nova Opy (Casa de Reza).

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Após ir até o local onde estava a árvore atingida pelo raio, o neto levou pedaços da madeira para Pauliciana, pedindo, contundo, para ficar com um pedaço para levar ao seu filho. Pauliciana explicou onde se deveria cortar.

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Durante a confecção dos colares, o guarani mbya trocam experiências, contam histórias, e falam sobre o seu cotidiano. Foi assim que Pauliciana terminou de confeccionar o mbo’y (colar guarani mbya) para o seu bisneto, feito com lasca da madeira da árvore em que o raio enviado pelos deuses atingiu. Em seguida, entregou-o ao seu neto, pai de seu bisneto, o colar pronto, para que este o entregasse ao seu filho: a força do mbya reko estaria fortalecendo os espíritos protetores das próximas gerações.

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