O petynguá é muito utilizado para o benzimento de alimentos e pessoas, pois a fumaça sagrada (Tataxina), tem o poder de renovar e purificar. Quando o raio atingiu uma árvore, na tekoá Koenju, era momento de Ara Pyau (tempo novo), quando os alimentos são colhidos e batizados (Nhemongaraí). O tempo, para os guarani mbya, está relacionado à passagem cíclica da natureza, e ao mesmo tempo com a caminhada realizada pelos povos guarani, suas mudanças físicas e espirituais. Assim, a temporalidade guarani não conta apenas a passagem da natureza, mas também os eventos que ocorrem nas aldeias, e o tempo da relação com os deuses e os espíritos, marcando os períodos de renovação. Neste período, as lideranças espirituais entram em contato com as moradas celestiais utilizando a Tataxina (fumaça sagrada) do petynguá (cachimbo), e as pessoas devem se preparar para viver como os deuses e seus ancestrais, os Nhanderú Mirim. Existem o Ara pyau – tempo novo (primavera-verão), Ara yma – tempo velho (outono-inverno), e Ara mbyté – tempo intermediário (inverno). Por isso, o petynguá é utilizado para benzer os alimentos e batizá-los, para que recebam seus espíritos protetores. As pessoas também são batizadas durante o Ara Pyau, momento em que os Nhe’e (espíritos protetores) fazem sua passagem para a terra.
O Nhemogarai consiste em fazer uma consagração dos alimentos e das sementes antes de plantar e após na colheita, em muitos casos também são batizadas as crianças que ainda não tem o seu nome em Guarani. Sendo assim é realizado um grande cerimonial, para o qual, cada pessoa leva seu alimento ou sementes.
Segundo Darella,
Milho e ritual de nominação (ñemongarai) estão imbricados. A festa do milho ocorre costumeiramente entre janeiro-fevereiro, ara pyau (tempo novo), ritual no qual as crianças recebem seus nomes-alma através dos xamãs, são reafirmados os nomes-alma dos jovens e adultos e ocorre a renovação da pessoa. Essa conexão cosmológico-social, relação divina de pessoa faz Francisco Timóteo Kirimaco expressar que todo ano “vira gurizinho de novo”, denotando surpreendente vigor, apesar da idade.
DARELLA, Maria Dorothea Post. Ore Roipota Yvy Porã “Nós Queremos Terra Boa” Territorialização Guarani no Litoral de Santa Catarina Brasil. Tese de Doutorado programa de estudos Pós-Graduação em ciência sociais PUC/SP, 2004. p. 100.
Esta afirmação é confirmada pelas pessoas mais velhas da comunidade e que praticam o cultivo do milho e o nhemongaray. […] (BARBOSA, 2015, p. 31).
A queda do raio na tekoá Koenjú ocorreu no início do Ara Pyau, e as lideranças espirituais estavam se preparando para benzer os alimentos. O chamado dos deuses, através do trovão, manifestou-se, portanto, em um momento de consagração da renovação, o que motivou Karaí Tataendi a guiar as pessoas da comunidade para construir uma nova Opy (Casa de Reza), para que a aldeia reencontrasse o caminho de Nhanderú Kuery. A Kunhã Karaí Pauliciana, começava a benzer as frutas coletadas na mata, assoprando a fumaça sagrada sobre elas, para purifica-las através da conexão com os deuses, e assim proteger quem as come. As kyringué (crianças) traziam as frutas guabiroba com grande entusiasmo até Pauliciana, para que ela às benzesse, assoprando a Tataxina (fumaça sagrada) …
Assim como os alimentos, as pessoas também são benzidas e batizadas durante o Ara Pyau. No dia em que a Opy ficou pronta, a comunidade guarani mbya da Tekoá Koenju se reuniu para agradecer, e fortalecer sua conexão com os deuses e os espíritos protetores. Em outras palavras, fortalecer o mbya reko (modo de ser guarani mbya) …
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