Os diversos povos que existem ou já existiram, contam o tempo de acordo com suas culturas. O tempo é um conjunto de transformações que as coisas e as pessoas sofrem. Estas transformações são observadas pelas pessoas através de comparações com fenômenos que ocorrem repetidamente, de modo a poder estabelecer a medição dos intervalos de tempo. A escolha das formas de medida de tempo, geralmente estão relacionadas com alguns fatores: as condições materiais dos povos, suas crenças e necessidades. Estes fatores (foram citados alguns exemplos, o que não significa que sejam apenas estes) influenciam a forma como as pessoas percebem a realidade, e é através desta realidade percebida, que se buscam fenômenos repetitivos para poder marcar os intervalos de tempo. Assim, fenômenos da natureza, ou comemorações religiosas, por exemplo, servem para orientar as pessoas em relação aos momentos em que se encontram. Entre os guarani mbya, o uso de calendários que indicam as épocas de plantio e colheita, as cerimônias religiosas, e alguns eventos diários, permitem aos guarani mbya saber o momento em que estão, e o que precisam fazer neste momento… O autor guarani mbya Ronaldo Antônio Barbosa nos mostra algumas preocupações da marcação do tempo, relacionadas ao fumo do petynguá (cachimbo sagrado), assim como um calendário do guarani Teodoro. Observando o calendário guarani, você percebe a preocupação em registrar e lembrar certos fenômenos e atividades? Quais?

O uso do petyngua é essencial nos rituais Guarani, além disso, não se esquecendo do fumo de corda, outro item que faz parte da cultura. O Guarani não costuma plantar fumo porque o próprio Nhanderu nos fornece, e esse fumo não vem com veneno é um fumo natural, sem agrotóxicos. Os mais velhos têm o costume de mascar o fumo em seu cotidiano, além de fumar no petyngua. Nos dias atuais muitas pessoas já preferem o fumo industrializado que vem picado e outros ainda usam o fumo de corda muitas vezes produzido em sua casa.

Fases de Plantio: Djatchy onhepytu no calendário do (djurua kuery) não índios – lua nova.

 

Estações do ano Guarani:

Ara ymã: Ano velho

Yro’ya: inverno

Ara pyau: Ano novo

Kuaray aku: verão

 

Na sequência vemos a representação do calendário a partir da visão Guarani

FIGURA 15 – Calendário Guarani do Teodoro. Fonte: Raquel Marschner. IN: DE GEORGE, Iozodara Telma Branca. Conhecimentos (Etno) matemáticos de professores Guarani do Paraná. Curitiba,2011. Dissertação de Mestrado do Programa de Pós-graduação em Educação e Em Matemática da UFPR. p.165. (BARBOSA, 2015, p. 34-35).

 

Assim, os guarani mbya percebem o tempo vivenciado entre dois momentos: Ara Ymã (tempo velho), e Ara Pyau (tempo novo). Durante o Ara Pyau, a aldeia busca viver como os deuses e os Nhanderú Mirim (ancestrais que alcançaram a terra sagrada), purificando-se e renovando-se. Nesse período, ocorrem os benzimentos, o batismo dos alimentos e das pessoas, denominado Nhemongaraí, pois é durante o Ara Pyau que os espíritos protetores (Nhe’e) descem ao mundo, cabendo às lideranças espirituais se comunicar com os deuses, para descobrir a origem dos espíritos. Os guarani mbya Werá Alexandre e Yva Nilce produziram um vídeo na Tekoá Itaoca (São Paulo), em que a guarani Rosalina Borge revela algumas práticas durante o Ara Pyau:

Baixar vídeo

 

Os guarani mbya percebem ao longo do dia a passagem do tempo, e a transição entre momentos. Na Tekoá Ka’aguy Hovy Porã (Aldeia Mata Verde Bonita), situada em Maricá – RJ, os guarani mbya da comunidade produziram um curta metragem, produzido e editado pelos guarani Diogo Karaí Tata Endy, Luciano Kuaray Mirim, Miguel Verá Mirim, lançado no dia 31 de dezembro de 2014, para encerrar o ano. O filme foi apresentado buscando mostrar alguns elementos do modo de vida mbya (mbya reko) presentes no cotidiano da aldeia a partir da percepção guarani mbya, através de várias passagens do tempo ao longo do dia. “Infinitamente mais rica do que uma câmera possa ter a pretensão de querer “captar”, a vida na Aldeia guarda a simplicidade e dinamismo cultural Guarani, em quatro capítulos de tempos distintos de um mesmo dia” (disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=6B8aQi3rnI8. Acesso em 02/01/2017). Importante destacar que estes são alguns dos momentos e situações vividas nas tekoá (lugar onde os guarani mbya vivem seu modo de ser), não significando que o cotidiano guarani se resume a apenas estes quatro momentos e situações. O primeiro momento que os guarani mbya encontram, ao despertar, é Ko’emba’í (amanhecer – de manhã cedo).

 

Baixar vídeo

 

Em seguida, o momento do Javy Ju (bom dia):

 

Baixar vídeo

 

Oo pyau (casa nova):

 

Baixar vídeo

 

Yy (água):

 

Baixar vídeo