Na Tekoá Koenju, os guarani convivem dentro da Reserva Indígena Inhacapetum, o que significa que as terras onde vivem foram compradas ou arrendadas pelo governo. Estas terras não são possuem matas muito extensas, e os guarani que lá vivem, precisam vender artesanatos para se manter. Os guarani mbya precisam saber utilizar das matas, para fazer remédios, caçar, e entender como respeitar a natureza. Por isso, dona Pauliciana ensina a seus netos como precisam manter a cultura guarani diante de todos estes desafios. Ela confecciona desenhos nos artesanatos, para mostrar aos jovens como os guarani mbya vivem, e o que precisam saber. Os desenhos guarani ensinam coisas sobre o ambiente em que vivem, e geralmente estão relacionados à natureza. Entre os artesanatos confeccionados para serem utilizados, ou com fins ritualísticos, pode-se adquirir os saberes necessários para se viver segundo o modo de vida guarani. Entretanto, também existem os grafismos e artesanatos feitos com significados estéticos, para encantar e vender, devido às necessidades e dificuldades que as comunidades enfrentam, como nos ensina a guarani mbya Alexandrina da Silva:
Para os guarani, os desenhos feitos nos artesanatos têm dois nomes e significados distintos:
YPARÁ: significados mitológicos, simbólicos e sagrados.
TA`ANGA: significados físicos e estéticos ou seja desenhos comum.
Os Guarani Mbya, assim como outros povos, valorizam e dão grande importância às relações simbólicas de seus objetos. Utilizam sua cultura material para transmitir mensagens e informações. Estas informações estão presentes, tanto nos objetos ritualísticos quanto nos objetos de uso domésticos.
Os objetos traduzem comportamentos, visões de mundo, valores tradicionais e identidade nos possibilitando uma melhor compreensão e uma leitura da cultura em que os mesmos estão inseridos. Assim como as pinturas corporais, os desenhos do artesanato também estão inspirados na natureza.
O artesanato é algo central da vida. É por meio e partindo dele que podemos entender vários aspectos da organização do povo guarani mbya. Isto é, as relações entre homens e mulheres, crianças e adultos até indivíduos de uma aldeia com aldeias diferentes e diferenças entre indígenas e a sociedade branca.
Através do artesanato que adquirimos conhecimentos sobre o tempo, as fases da lua, o período adequado para colher a matéria prima da mata e o tempo de secar, de trançar ou de preparar para a confecção artesanal. (SILVA, 2015, p. 12).
Os padrões Ypará Korá, por exemplo, são utilizados no cotidiano guarani mbya, e são dadas de presente para os parentes guarani que visitam a aldeia.
Já outras formas de grafismos e pinturas podem aparecer com significados estéticos, para manter a sobrevivência da aldeia através da venda. Mas isso não quer dizer que a vivência religiosa esteja apagada, nestes casos. As crenças, e a própria habilidade artesanal, mantem viva a tradição, no processo de confecção para a venda. Um guarani mbya pode descobrir novas formas estéticas através dos sonhos, e das meditações: perceba que estas práticas são realizadas entre a comunidade guarani mbya, continuando a manter suas manifestações culturais mesmo em contato com o mundo urbano…