Os conflitos devido à invasão das terras Guarani pelos juruá são datados desde séculos atrás.  Essa situação se encontra desde a inserção de não-indígenas no Brasil. No atual Estado do Rio Grande do Sul, por exemplo, durante o início do século XVII, as terras eram ocupadas pelos povos Guarani Mbya, Laklãno/Xokleng, e outras etnias ameríndias que por ali transitavam ou fixavam moradias. Os Guarani tiveram que enfrentar os ataques de bandeirantes, gerando conflitos com não indígenas. Muitos Guarani passaram a viver nas reduções dos padres jesuítas, onde ocorreram várias trocas culturais entre padres católicos e povos Guarani.

Localização dos Sete Povos das Missões. Extraído de: http://turma51escolaestadualbrasilia.blogspot.com.br/2013/04/sete-povos-das-missoes.html. Acesso em 11/12/2015.

Os territórios da América do Sul haviam sido arbitrariamente divididos entre Portugal e Espanha, e na segunda metade do século XVIII, portugueses e espanhóis assinaram uma serie de tratados, para trocar os territórios da Colônia de Sacramento (atual Uruguai, até então uma região portuguesa) pela região ocupada pelos sete povos das missões (atual Rio Grande do Sul, até então uma região espanhola). Em 1750, ocorreu a assinatura do Tratado de Madrid, que delimitava as fronteiras espanholas e portuguesas da América do Sul. Este pacto não foi aceito pelos Guarani missioneiros, havendo uma série de violentos conflitos armados, conhecida como Guerra Guaranítica (1756). Como a aldeia dos Sete Povos ficava localizada bem no perímetro da fronteira, os Guarani receberam um ultimato para abandonarem suas terras e seguirem para o outro lado do rio Uruguai. Após os combates, a região do Rio Grande do Sul passou a ser ocupada por colonizadores portugueses, fazendeiros donos de charque e empresas canavieiras. No início do século XIX, através de mais um pacto entre Portugal e Espanha, o Tratado de Badajoz (1801), possibilitou o avanço das fronteiras do Rio Grande do Sul. Outro acordo de 1804, entre o vicerei do Rio da Prata e o governador do Rio Grande reconheceria a soberania portuguesa na área, caracterizando as fronteiras entre Uruguai, Argentina, Paraguai e Brasil, tal como conhecemos hoje, sendo traçadas com diferentes limites a partir daí, pelos vários acordos e conflitos ao longo do século XIX e XX.

Divisões geopolíticas após o Tratado de Madrid. Extraído de: http://www.tenonde.com.br/7povosmissoes. Acesso em 11/12/2015.

As fronteiras impostas pela Guerra Guaranítica, e os tratados posteriores entre os países europeus, não levavam em consideração a forma de ocupação territorial dos Guarani que viviam nas regiões dos Sete Povos das Missões. Após a guerra, os Guarani Mbya continuaram caminhando pela região, pois os territórios têm, para eles, significados sagrados. Portanto, buscavam continuar vivendo nos ambientes em que estavam, pois, os povos Guarani procuram condições específicas para formar as tekoá (lugares onde os Guarani Mbya vivem seu modo de ser) e assim poderem manter seu nhandereko (sistema cultural Guarani mbya). Mas a paisagem começou a se modificar consideravelmente. As fazendas começaram a tomar conta dos espaços, assim como as estradas pelas quais circulavam as mercadorias. Com o tempo, núcleos urbanos começavam a se formar, com juruás (não indígenas) de diferentes nacionalidades. Devido às ações dos juruá, os povos Guarani eram expulsos das regiões propícias para a formação das tekoá (lugar onde os Guarani Mbya vivem seu modo de ser), ou não tinham opção senão trabalhar nas lavouras, para os fazendeiros e proprietários da região, ocupando parte dos terrenos para sobreviver, pelos quais antes circulavam livremente, sem as limitações de cercas, e a dependência de dinheiro. No filme Desterro Guarani (2011), os Cineastas Indígenas Mbya-Guarani, decidiram entrevistar alguns não indígenas solidários às causas Guarani, para registrar suas versões sobre as relações entre os Guarani Mbya e os não indígenas durante as últimas décadas, no Rio Grande do Sul. A visão dos cineastas Guarani Mbya é interessante, pois se trata de uma busca de pessoas Guarani Mbya pelo entendimento da sua história, utilizando-se dos relatos de não indígenas. Os narradores da história, que seguram a câmera, são os Guarani Mbya, diferente da costumeira abordagem não indígena aos Guarani.

Baixar vídeo

Como os juruá não entendiam (e não entendem) a cultura e a forma de vida dos povos Guarani Mbya, muitos os identificavam (e identificam) através de preconceitos. As comunidades Guarani Mbya que passam a viver próximas aos não indígenas, acabam tendo que trabalhar nas lavouras, pois não encontram mais espaços para apenas plantar e viver das matas. Ao longo do contato cultural com os juruá, os Guarani Mbya vêm resistindo à invasão dos não indígenas, mantendo a sua cultura de produção artesanal, e para sobreviver, passam a vender artesanatos em meio às cidades. A produção de artefatos faz com que os Guarani Mbya levem a sua cultura à cidade, ao mesmo tempo em que entram em contato com o mundo não indígena.

Baixar vídeo

Voltar