Para fazer artesanatos, é preciso de matéria-prima… mas e se não tiver matéria-prima onde vivem os artesãos e artesãs?
Atualmente, as comunidades guarani continuam mantendo em sua rotina, a produção artesanal, que faz parte de sua cultura, e portanto, possuem significados religiosos. Porém, muitas de suas terras, onde vivem, não oferecem mais árvores que sirvam para a extração de tintas, ou para extração das madeiras que compõe os artesanatos. Como os guarani conseguem continuar a prática artesanal? A resposta parece ser encontrada nas cidades:
Nos tempos antigos, o cesto era utilizado pelas mulheres para carregar as sementes de milho para levar para plantar na roça e também carregar as crianças. Hoje os Guarani Mbya, produzem para vender e têm o artesanato como principal fonte de subsistência. Em algumas aldeias, está difícil a matéria-prima, pois as matas estão escassas, quase não se usa mais as tintas vegetais e sim tintas compradas na cidade. (SILVA. 2015, p. 10).
Além de comprar parte da matéria-prima na cidade, os guarani, principalmente mulheres, costumam ir até os espaços urbanos para vender os artesanatos. Isso acontece porque o ambiente em que vivem muitas vezes acaba não sendo suficiente para a subsistência da comunidade. Suas terras foram espoliadas, e são obrigados a viver em regiões impróprias para a sua cultura. Assim, a venda dos artesanatos é um meio que os guarani encontraram para manter sua cultura e suprir as necessidades da aldeia, que não tem terras para plantar, caçar, ou coletar matéria-prima.
Outras mudanças são visíveis na prática artesanal guarani, ao longo do século XX. Várias comunidades guarani transformaram suas técnicas artesanais, acrescentando novas tintas, cores, matéria prima, e formatos. A divisão do trabalho também se adaptou às novas necessidades: nem sempre a elaboração artesanal é realizada apenas entre familiares, podendo ser dividida entre homens e mulheres, de acordo com as novas condições territoriais, e as relações de compra de matéria prima e venda artesanal nas cidades.