Era época de comemorações, quando o raio caiu na Tekoá Koenju. Haviam visitantes vindos de outras aldeias, que estavam lá para encontrar seus familiares, e ensinar novas formas de trançados e outros tipos de artesanatos. A Kunhã Karaí Pauliciana, e o Karaí Karaí Tataendi (Solano), rezavam com frequência pelos visitantes na Opy (Casa de Reza). Os laços entre os guarani mbya, e o fortalecimento dos seus saberes, correspondem a sua busca para erradicar os maus espíritos fortalecendo os seus Nhe’e (espíritos protetores). Este fortalecimento se dá de forma coletiva, pois para viver o mbya reko (modo de ser guarani mbya), os guarani precisam uns dos outros. As aldeias precisam se fortalecer, para que os espíritos continuem lhes protegendo, sem lhes causar negatividade. Por isso, a cultura guarani mbya é composta por constante mobilidade entre as aldeias. É como os guarani mbya se visitarem, principalmente para encontrar os seus parentes espirituais, os quais tem o Nhe’e advindos da mesma morada espiritual. Ao chegarem e partirem das aldeias, os guarani mbya são recebidos na Opy (Casa de Reza), onde acontecem algumas danças entre homens e mulheres, que entoam canções, liderados pelo Karaí (liderança espiritual da aldeia). Os cantos entoadas lembram a importância da visita dos parentes, e renovam os laços entre os parentescos, e as comunidades guarani mbya, de diferentes tekoá (lugares onde os guarani mbya mantem seu modo de ser).

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Geralmente, as trocas de aprendizado entre as aldeias guarani mbya acontecem dessa forma, com as visitas dos parentes, e a busca espiritual através da caminhada…

[…] Muitos vão para outras aldeias para visitar parentes, e aprendem desenhos diferentes. Tiram fotos ou trazem para servir de referência para desenhar na cestaria.

Isso não só acontece com a cestaria, mas com a confecção de colares, sempre que saem e voltam para aldeia, chegam com novidades com novos desenhos, diferentes grafismos, novas ideias e desenvolvendo suas criatividades. (SILVA, 2015, p. 23).

Além de ensinarem novos saberes durante a sua estadia nas aldeias, os guarani mbya visitantes geralmente são presenteados, com artefatos e artesanatos de utilidade para a a vivência no dia a dia do mbya reko, artesanatos carregados de significados, que protegem aqueles que os usam. Estes artesanatos protegem os guarani mbya, durante sua caminhada. É o caso dos mbo’y (colares), que podem ser dados ao sair de sua aldeia, ou ao chegar nas aldeias que se vai visitar…

Os colares feito de sementes, são elementos sagrados e é tradicional guarani. Alguns são consagrados pelos Karai. Então esse é dado para a pessoa que vai viajar e visitar seus parentes longe da aldeia. Esse colar vai proteger a pessoa durante a viagem para que nada de mal lhe aconteça. (SILVA, 2015, p. 17).

Os colares podem ser feitos de sementes, madeira talhada, ou de miçangas…

Fotos tirada por mim na sala colares de Joana Mongelo. (SILVA, 2015, p. 16).

 

Outro artesanato com o qual os guarani mbya presenteiam aqueles que visitam, ou partem das aldeias, são as poapy reguá (pulseiras). Elas protegem aqueles que às utilizam, através dos desenhos que são impressos a redor da pulseira. Muitas vezes, os guarani mbya também utilizam desenhos corporais para se proteger, fortalecer o Nhe’e, através da reafirmação do seu próprio espírito-nome: por exemplo, pessoas que se chamam Karaí se pintam de certa forma, e pessoas que se chamam Jekupe se pintam de outro jeito.

Pulseira (Poapy reguá) feita por Cláudia Mariano (artesã em pulseiras), trabalha como professora na oficina de artesanato no projeto Mais Educação. In: SILVA, Alexandrina da. O Grafismo e os Significados do Artesanato da Comunidade Guarani da Linha Gengibre. 2015. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Licenciatura Intercultural Indígena) – Universidade Federal de Santa Catarina, p. 17.

 

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