As comunidades Guarani Mbya podem conferir diversos sentidos à produção artesanal e aos grafismos neles contidos, de acordo com o lugar onde vivem. Isso porque os símbolos desenhados nos artesanatos estão relacionados aos materiais coletados na natureza. A confecção dos ajaka (cestarias Guarani Mbya) são realizados através de vários materiais coletados nas matas. Os tipos de materiais estão relacionados com os significados dos grafismos das cestarias, que representam a natureza de onde surgiram os materiais, e a funções sagradas que as cestarias desempenham nas aldeias.

O grafismo da cestaria está carregado de representações simbólicas, relacionadas com a natureza e com o sagrado. A confecção de cestos em taquara recebe tramas ou desenhos geométricos. As mais escuras são obtidas do uso do cipó Imbé, e as mais claras, amarelas e vermelhas, são obtidas com o uso do tingimento ou pinturas de tiras do material com tintas naturais. (SILVA, 2015, p. 24).

Pauliciana ensinava às crianças que os Guarani Mbya percorrem por diversas regiões em busca de condições especificas para manter o mbya reko (modo de ser Guarani Mbya). Essa busca era ensinada através dos desenhos dos grafismos presentes nas cestarias, que representam as histórias e a busca dos Guarani, em sua caminhada …

Através dos grafismos presentes nos artesanatos, nós Guarani valorizamos historicamente e culturalmente a memória de nossos ancestrais e, assim, preservamos a nossa maneira de ser e de viver, mantendo viva a nossa tradição.

[…] Para fazer isso, nós Guarani com certeza observamos muito bem os animais. Por isso que tudo o que fazemos tem uma relação com Nhanderu (Deus nosso Pai Maior) e com a natureza. Também tem tudo a ver com o espírito cosmológico. Cada um dos grafismos e desenhos têm um significado que está relacionado com a simbologia, à mitologia e o sistema Guarani. Um tipo de grafismo desenhado na cestaria significa: o caminho que os Guarani percorrem quando mudam-se de uma aldeia para outra ou visitam os parentes na outra aldeia (SILVA, 2015, p. 10).

Os caminhos Guarani Mbya são trançados nos textos, indicando o destino dos povos Guarani de percorrerem os caminhos que levam à Terra Sagrada…

Este grafismo, significa a trajetória que os Guarani fazem, pois para os Guarani não existem fronteiras e eles são livres, quando saem de uma aldeia para outra, podem voltar a hora que quiserem. (SILVA, 2015, p. 26).

Os cestos com desenhos das trajetórias realizadas pelos povos Guarani representam a mobilidade e a frequente visita aos parentes físicos ou espirituais, pois os Guarani Mbya estão em constante movimento, e andam entre as aldeias. Ele é chamado de Iparaxyry, e os Guarani mbya que utilizam os cestos, misturam os significados e os usos dos cestos, com a história da caminhada e da criação dos povos Guarani…

Antigamente, o cesto era utilizado pelas mulheres, para carregar as sementes de milho tradicional e também para carregar as nossas crianças.

Nhanderu nos ensinou a trançar para que pudéssemos carregar as sementes de milho sagrado e também as crianças. E aos homens deu o arco e a flecha para caçar, para poder viver na floresta. As histórias dos antigos contam como tudo isso aconteceu. O artesanato era sagrado” (Cacique Verá Mirim).

O cesto está no princípio da criação do homem, que dele provém. Ele é um recipiente, significa um receptor pronto para receber os propósitos de Nhanderu (Deus). A palha trançada é o princípio mítico dos Guarani. As tranças dos cestos, têm um nome e um significado especial. Um tipo é chamado de Iparaxyry, que significa o caminho que os Guarani fazem quando visitam ou mudam de aldeia. As pessoas que recebem os visitantes ficam em fila uma atrás da outra (SILVA, 2015, p. 14).

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