Quem disse que todos os Guarani não querem escola! Os povos e lideranças Guarani lutam por uma escola diferenciada em suas aldeias, em que possam aprender de acordo com as fontes e os meios de conhecimento do modo de ser Guarani: os mais velhos, a oralidade, a Opy (Casa de Reza) e o Coral. Mas os Guarani sabem que precisam da escola, para poder conviver com os não indígenas, e para poder mostrar como sua cultura é forte, e resiste. Na primeira Conferência de Educação Escolar Indígena de 2001, apesar de haverem comunidades e grupos Guarani que não queriam escolas em suas aldeias, outras comunidades se mostraram interessadas, mas a partir dos seus termos, e cultura. Leia os documentos abaixo, contendo exemplos sobre como as comunidades Guarani reivindicam as suas escolas. Conforme Bruno Ziliotto (2016), “os documentos apresentados são parte do resultado de dois encontros realizados para discutir o provimento de escolas nas aldeias indígenas. In: VIEIRA, Ismenia de Fátima. Educação escolar indígena: as vozes guarani sobre a escola na aldeia. 2006. Dissertação (Mestrado em Educação) – Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2006, p.52-54”.
Encontros com lideranças para debater a escola Guarani
Fonte 1 – Trecho do documento final do “I Fórum Catarinense sobre as Questões Indígenas” (1999)
Reivindicações dos Guarani das aldeias do Estado de Santa Catarina:
– A educação nas nossas aldeias acontecem na opy, no trabalho, nas atividades diárias. A educação escolar deve ser uma ajuda para nós compreender o mundo do branco, para que não sejamos prejudicados e enganados para melhor lutar, saber negociar, exigir direitos etc.
– A educação escolar deve ser bilíngue e a alfabetização primeiro em Guarani;
– A escola deve ser diferente da oficial; os professores devem ser Guarani e devem respeitar os costumes e as tradições do povo Guarani;
– Todas as decisões de como deve funcionar a escola terá que ser discutida com a comunidade;
– A escola deve ensinar a história do povo Guarani para as crianças, para garantir a continuidade da memória e da cultura Guarani;
– Ter troca de experiência entre as várias escolas Guarani, com o objetivo de ter uma escola indígena Guarani;
– Que as escolas Guarani sejam reconhecidas oficialmente.”
Extraído de: http://provocacoes-cronicas.pro.br/assets/cronica1/assuntoA/pergunta7/e%29%20Que%20escola%20querem%20os%20Guarani.pdf.
Fonte 2 – Trecho do documento final do “I Encontro de Educação Escolar Guarani da Região Litoral Sul” (Praia do Morro das Pedras, Florianópolis-SC, 27 a 31 de agosto de 2001)
1) Os Guarani querem escola?
Os Guarani que aqui estão reunidos entendem que deve haver escola nas aldeias que já discutiram e querem. Deve ser respeitada a decisão de cada comunidade que não quer escola.
2) Por que os Guarani que optaram por ter escola em suas comunidades, decidiram dessa forma?
Para que o indígena Guarani seja alfabetizado em sua própria língua e em português.
Para aprender a ler e escrever bem e então escrever a sua própria história.
Porque é importante que não se perca a própria história.
Para o resgate da cultura tradicional que pode estar se perdendo.
Para aprender o necessário para a sobrevivência física e cultural, não mais que o necessário.
3) Em que prejudica a escola normal do não- índio hoje?
Porque pode mudar a mentalidade dos jovens, porque a educação Guarani é feita com respeito e para ter bom comportamento. A escola do branco é entendida, pelos indígenas que não querem escola, como voltada só para o dinheiro.
Porque os Guarani já têm seu sistema próprio de educação. Por exemplo, as avós (xejaryi) ensinam as crianças quando se faz artesanato, pesca, faz opy. Tudo isto é educação.
4) O que os Guarani esperam da escola?
Esperam que seja um espaço de conscientização e valorização da cultura Guarani, considerando comparativamente a matemática, a geografia, a botânica, os mitos, a ciência e a história do Guarani. Os mais velhos, que conhecem bem a cultura, devem ser professores e também participar da formação dos jovens.
DOCUMENTO PRODUZIDO PELOS REPRESENTANTES DAS ALDEIAS:
Ilha da Cotinga, Morro da Paca, Cerco Grande, Sambaqui e Karugua (PR)
Tiaraju, Tarumã, Jabuticabeira, Pindoty, Araçá, Navegantes, Biguaçu, Morro
Alto, Massiambu, Morro dos Cavalos, Marangatu e José Boitex (SC)
Varzinha, Figueira, Estiva, Canta Galo e Campo Molhado (Barra do Ouro) (RS
Extraído de: http://provocacoes-cronicas.pro.br/assets/cronica1/assuntoA/pergunta7/e%29%20Que%20escola%20querem%20os%20Guarani.pdf.